Passado o carnaval, para muitos um tempo de reflexão e para outros um tempo de diversão, nem sempre saudável, ouviremos na Quarta Feira de Cinzas o apelo de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Começa então a quaresma, caminho da Páscoa, tempo de retomar o empenho em viver, na oração, e na penitência, o Evangelho de Jesus. Sem profunda “conversão da consciência pessoal e coletiva dos homens, da atividade em que eles se aplicam e a vida e o meio concreto que lhes são próprios”, não será possível uma sociedade justa (cf. EN de Paulo VI).
A Campanha da Fraternidade deste ano, nos convida a repensar nossas atitudes no coração da sociedade na linha do serviço, tendo como tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e como lema”Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45). As perguntas que devo me fazer são: “Onde está meu coração?”, “Com que procuro responder ao meu desejo de vida?”, “Qual é o meu Deus?” “Ou seja: em que gasto a minha vida? A quem a ofereço? O que tem dado sentido ao meu viver?”.
São três as tentações fundamentais que ameaçam o ser humano. A primeira: colocar o sentido da vida no consumo. Esta se relaciona com a fome: fome de tudo. Fome de dinheiro, de bens materiais, de prazer, de distração, de droga, de bebida, sexo, etc… A esta se responde assim: ” Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”. A segunda: usar a religião em beneficio próprio, tomando o nome de Deus em vão, ou seja, não procurar a vontade de Deus, mas querer um deus a serviço dos próprios caprichos: “Se és Filho de Deus lança-te daqui abaixo…”, que Deus te garantirá. Esta se vence assim: “Não tentarás o Senhor teu Deus”. A terceira: a volúpia pelo poder e pela riqueza: “tudo isso te darei se caíres de joelhos para me adorar”. Ao que com Jesus, se deve responder: “para trás, Satanás, pois está escrito; adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás” (cf. Mt 4, 1-11; Lc 4, 1-13).
Se pensarmos bem, haveremos de constatar que a corrupção na vida da sociedade e a destruição de nosso planeta só poderão ser evitadas pela vitória sobre estas três tentações. A exploração predatória dos recursos naturais, a edificação de impérios econômicos e políticos opressores, a ausência do espírito de serviço na vida pública e nas práticas sociais, aliadas a uma religião transformada em componente de ideologia que justifica tais processos, impedem que nosso pequenino planeta seja a morada digna de uma verdadeira família de irmãos.
Não basta rezar o Pai-Nosso, é necessário vivê-lo. Se peço a Deus algo pelo que não luto, minha oração é mentirosa. Comece em sua casa, em sua cidade, dentro de você. Quaresma é tempo de meditar sobre essas coisas e converter-se.
Dom Eduardo Benes Sales Rodrigues
Arcebispo Metropolitano de Sorocaba