“Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte sentou-se e começou a ensiná-los”.
Nesse dia, Nosso Senhor, ensinou uma nova forma de relacionamento completamente oposta aos princípios e costumes vigentes no mundo antigo. À crueldade e a dureza de trato, veio contrapor a lei do amor, da bondade e do perdão, belamente sintetizada nas oito Bem-aventuranças que constituem o novo programa do reinado de Deus. Ao praticá-las o homem, a mulher, encontra a verdadeira felicidade que busca sem cessar nesta vida e jamais poderá encontrar vivendo no pecado. “Todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo” (Jo 8, 34), adverte Jesus.
As almas puras e inocentes, ao contrário, desfrutam já nesta Terra de uma extraordinária alegria espiritual, mesmo no meio de sofrimentos e provações.
Então nessa ocasião propícia, Jesus apresentou ao público sua nova doutrina dizendo: “Bem aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”.
Os “pobres de espíritos” mencionados pelo Divino Mestre neste versículo não são os carentes de dinheiro, e sim os homens desapegados dos bens deste mundo. Em meio à abundância e prosperidade, pode um rico ser pobre de espírito, pela prática da caridade e pela submissão à vontade de Deus, em função da qual administra sua riqueza. Por outro lado, um pobre, revoltado com sua condição, dominado pela inveja, pela ambição ou pelo orgulho, será “um rico de espírito” ao qual o Reino dos Céus jamais poderá pertencer.
“Bem aventurados os aflitos, porque serão consolados”.
À natureza humana decaída repugnam a dor, o sacrifício e mesmo qualquer esforço. Todavia, na segunda das Bem-aventuranças enaltece Nosso Senhor o pranto daqueles que suportam o sofrimento físico e a dor moral por razões sobrenaturais, como em expiação pelos próprios pecados ou o que é mais nobre, em expiação pelas culpas alheias. Bem-aventuradas são as santas lágrimas desses aflitos, que tanta consolação lhes podem trazer ao ajudá-los a ver o vazio dos bens passageiros e a merecerem os bens eternos.
“Bem- aventurados os mansos, porque possuirão a Terra”
A mansidão elogiada por Cristo neste versículo consiste, sobretudo, em ser o homem constantemente senhor de si mesmo, controlando as próprias emoções e impulsos. Ela lhe impede de murmurar contra as adversidades permitidas por Deus e o leva a não se irritar com os defeitos dos irmãos, procurando, pelo contrário, desfazer os desentendimentos e desculpar com generosidade as ofensas recebidas.
“Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”.
Ter fome e sede de justiça equivale a desejar a santidade. Jesus louva aqui a árdua batalha daqueles que, visando atingir a perfeição moral, lutam para progredir na vida espiritual, examinam com rigor sua consciência e combatem com energia os próprios defeitos.
“Bem- aventurados os misericordiosos, porque alcançarão a misericórdia”.
Por vezes, sentimos verdadeiro horror em perdoar, pois consideramos ser conforme à justiça tratar cada um estritamente segundo seu atos e méritos. Contudo, o Bom Pastor nos convida aqui a desculpar as fraquezas de nossos irmãos e nos compadecer de suas misérias.
“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus”.
Ao ouvir falar em “puros de coração”, pensa-se logo na virtude angélica. Não obstante, essas palavras não designam exclusivamente a castidade, mas o afastamento do pecado, a isenção de toda mácula moral. O coração é aqui considerado, à maneira hebraica, como o centro da vida moral.
O alcance desta expressão é, portanto, bem mais amplo e profundo. O puro de coração tem todas as intenções e aspirações voltadas para o Altíssimo e para o benefício do próximo.
“Bem- aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”.
Ora, para irradiar a paz é preciso começar por desfrutar dela no próprio interior. Isso significa não ter suscetibilidades nem ressentimentos, sabendo ceder oportunamente às exigências do próximo, ainda quando forem ou parecerem injustas, desde que não nos façam incorrer em pecado.
“Bem-aventurados, os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos Céus”.
Por amor à justiça, isto é, à santidade, passaremos sem dúvida nesta vida por momentos em que seremos incompreendidos e mesmo perseguidos. Em quantas ocasiões não foram os Santos objetos das mais injustas perseguições, por amor à verdade?
Com essas oito sentenças, Jesus indicou a via para alcançar o Céu, onde veremos a Deus face a face e participaremos da própria vida divina, possuindo a mesma felicidade da qual Ele goza. E quem rege sua conduta de acordo com elas começa por antegozar espiritualmente, já nesta Terra, a felicidade eterna.
As Bem-aventuranças não são, portanto, frases para serem estudadas apenas com a inteligência, de modo frio, mas sim princípios de vida a serem lidos e meditados com o coração, com o calor de alma de quem quer se pôr a caminho, seguindo os passos de Nosso Senhor.
Com uma suavidade toda divina, elas nos convidam à radicalidade na prática do bem, pois o padrão de virtude que nelas Cristo nos propõe não é outro senão Ele mesmo, o Próprio Deus.